Age shaming, gerascofobia, etarismo e outros que tais: quão grande é o seu medo de envelhecer?

Somos seres vaidosos: as redes sociais atestam isso. Sempre felizes, positivos, em busca de reconhecimento social e notoriedade! Algumas pessoas perderam a vida na busca da selfie perfeita, corroborando os estudos de Daniel Halpern e Sebastián Valenzuela, que revelaram que o hábito faz crescer o nível de narcisismo das pessoas, pois a imagem perfeita que queremos mostrar pode alterar a imagem que temos de nós.

Prova disso é que hoje somos o primeiro país em cirurgias estéticas do mundo, de acordo com os dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética: aumento de mamas, lipoaspiração e abdominoplastia ocupam os três primeiros lugares no ranking. O mais preocupante é o aumento desse índice em 140% entre adolescentes de 13 a 18 anos, colocando o Brasil também na primeira posição de cirurgias plásticas em adolescentes.

O que isso diz sobre nós?

A tirania do corpo perfeito, o culto a juventude e a magreza como parâmetro ideal de beleza estão em nosso DNA, especialmente no DNA da mulher brasileira. Basta olhar as revistas de moda, os filmes e as novelas: temos a sensação de estar sempre devendo, procurando um ideal que, se existe, não é nosso.

Isso explica em parte nosso medo de envelhecer. Medo ou pavor? A antropóloga e estudiosa do envelhecimento Mirian Goldenberg diz que a mulher brasileira, antes dos 40 já tem pânico de envelhecer. Quem nunca se preocupou com isso que atire a primeira pedra!

Sim, porque a velhice vai se apossando de nosso corpo, sem pedir licença. Cabelos brancos começam a aparecer, a pele vai afinando, rugas surgem, sem que isso tudo acompanhe nosso ritmo, nossa energia, nossa cabeça. Claro, aos 40 não temos nem “meio caminho andado”! Mas consideramos a velhice feia. A velhice nos assusta e por isso tentamos camuflá-la com tinturas, cremes e procedimentos estéticos diversos. De repente vamos todas ficando loiras!.

 Age Shaming é o nome dado para a vergonha de envelhecer, fenômeno que afeta a saúde física e mental de boa parte das mulheres e foi escancarado no ambiente de trabalho durante a pandemia do novo coronavírus com a divulgação, por parte de algumas empresas, da relação de profissionais pertencentes ao “grupo de risco” em função da idade. Algumas mulheres relataram um sentimento de extremo embaraço por conta de piadinhas e comentários feitos por colegas de trabalho, que na maioria dos casos não desconfiavam que aquela profissional ativa e inteligente já tinha ultrapassado a barreira dos 60

Sim, porque em nossa sociedade eternamente jovem, pique e inteligência não podem caminhar com os avanços da idade! Quando uma pessoa faz 60 anos no Brasil algo acontece misteriosamente, levando a beleza, sensualidade, inteligência e sucesso profissional para outra dimensão e ela tem que começar do zero, como se tudo o que conquistou fosse apagado de sua biografia. Temos todos que nos reinventar para viver o tal do " terceiro ato", nossa ressurreição frente a morte metafórica a qual somos submetidos.

Talvez seja essa a explicação para a Gerascofobia, traduzida por um medo irracional de envelhecer. Esse pânico costuma estar relacionado com mudanças na aparência, declínio na saúde, possibilidade de dependência na velhice e medo da solidão. O mais preocupante é que atinge muitas vezes pessoas na faixa dos 30/40 anos, que precisam de terapia para 

A complexidade do envelhecimento passa por questões biológicas, psicológicas, sociais e culturais, já que modifica a nossa relação com o tempo, gerando mudanças em nossa relação com o mundo e com a nossa história. E para piorar, a velhice nos torna vítimas do etarismo, um preconceito contra o qual não nos preocupamos antes de sermos o alvo.

A velhice traz sentimentos de perda, uma espécie de luto antecipado pela perda de si mesmo. Luto daquilo que fomos e que jamais voltaremos a ser. Luto daquilo que está por vir, algo desconhecido, que assusta.

Por isso, o processo é dolorido. Envelhecer bem, aceitar a velhice, pois por mais que consigamos retardar as marcas do tempo no espelho, o enfrentamento psicológico só é possível se essa morte anunciada for bem elaborada.

A fórmula para isso varia de pessoa para pessoa, mas a aceitação pode ser o primeiro passo. Compreender que a velhice é uma nova fase da vida na qual podemos ser mais livres, autênticos e despreocupados com as pressões exercidas pelos papéis sociais! Curtir a vida com mais tempo, aproveitar a companhia das pessoas e perceber que o tempo é nosso aliado: afinal, a tal da velhice pode durar 20, 30 anos ou mais. Que tal aproveitar para ser feliz?

Artigo publicado originalmente no LinkedIn em Dezembro/20