Reflexões sobre Diversidade Etária: Estereótipos, Meta-Estereótipos e suas Consequências no Ambiente de Trabalho

Estereótipo é um assunto conhecido e relativamente fácil de compreender: costumamos simplificar as coisas, generalizando-as, para facilitar a vida e nem percebemos os preconceitos que estão por detrás disso.  O que vêm a sua mente quando te pedem para descrever “o povo brasileiro”?

Os estereótipos são generalizações e costumam ser a base dos preconceitos. Palmore, em seu livro sobre o etarismo, lista os principais estereótipos relacionados às pessoas mais velhas, dentre os quais o declínio cognitivo. A força dos estereótipos é tão grande que, por maiores que sejam os cuidados com a saúde física e mental, a maioria dos estudos continua apontando para eles.

A relação entre estereótipos de idade no trabalho e perfis geracionais é outra interessante reflexão a ser realizada: se sou da geração X, sou ambiciosa, diferente da minha colega cheia de propósito da geração Y, e por aí afora. Mais crenças relacionadas a perfis etários.

O novo conceito de meta-estereótipo se insere neste ponto, considerando o que acreditamos que os outros pensam de nós com base em nossa faixa etária. Parece complicado, mas não é!. Eden King e três colegas, ao explicarem este tema em um artigo recente na Harvard Business Review, colocam que uma pessoa mais jovem pode se preocupar com o fato de pessoas em seu ambiente de trabalho acreditarem que ela seja narcisista, mesmo que as outras pessoas não estejam pensando isso dela, ou seja, as pessoas podem assumir que outras pessoas estejam fazendo suposições sobre ela.

O assunto fica mais interessante quando King, Finklestein, Thomas e Corrington citam algumas pesquisas, especialmente uma na qual jovens profissionais foram convidados a treinar pessoas a lidar com aspectos relacionados a tarefas de computador de forma remota e verificaram que os treinamentos realizados com pessoas supostamente mais velhas ( foram usadas fotos e programas de alteração vocal) foram realizados de forma mais superficial devido às baixas expectativas sobre o seu retorno.

São várias as conclusões possíveis através desta pesquisa e nenhuma delas é muito animadora. A primeira é a de que, em temas relacionados à tecnologia, treinamentos mais “ fracos”  podem ser realizados com pessoas mais velhas, especialmente quando conduzidas por pessoas mais jovens. A segunda, por consequência, será uma maior dificuldade por parte dos mais velhos em aplicar os conceitos supostamente aprendidos em sua rotina profissional, ou seja , “não foram ensinados direito e por isso, não aprenderam direito”, algo bastante diferente de “não aprenderam direito porque não têm boa capacidade de aprendizado”.

Podemos analisar também o efeito que tal processo pode ter na cabeça dessas pessoas que foram mal treinadas, e que, portanto, não aprenderam. O estereótipo vigente é o declínio cognitivo. Se fiz o curso e não consigo aprender ou aplicar o que aprendi, possivelmente é porque me encaixo neste estereótipo, então, talvez não valha a pena eu me esforçar para isso: o conceito de profecia auto-realizadora de Allport  nos mostra que em muitos casos nos comportamos de acordo com o que se espera de nós.

Não são reflexões incríveis para nossas organizações?