Vale a pena implantar o modelo de “polywork” nas organizações brasileiras?

Jovens ditando tendências

Questionar o “status-quo”: dos hippies à nossa conectada juventude atual, esse padrão, comprovado por vários estudos, tem se mantido ao longo dos anos. Tente lembrar como era a sua versão atual aos vinte anos de idade!

Os jovens de hoje não fogem à regra e desafiam padrões que não se encaixam em suas expectativas. São mais abertos, menos preconceituosos e se posicionam com mais segurança do que as gerações anteriores.

As relações profissionais seguem a lógica das relações pessoais, fugindo de regras e compromissos que possam sufocar a necessidade de liberdade. Sem conseguir encaixar felicidade com a tradicional equação “hierarquia+local e horário fixo de trabalho”, muitos empreendem, viram “nômades digitais” ou apostam no chamado “polywork”.

Tendência e demanda da Geração Z, o “polywork” traz para o mercado a possibilidade de trabalho em duas ou mais empresas, em regime PJ ou CLT com transparência no processo, afinal autenticidade é fundamental!

Solução de emprego nas pontas

A novidade soa como algo estranho num primeiro momento, mas pode ser a solução para profissionais em início de carreira, quando não possuem repertório ou experiência; para profissionais “maduros”, expulsos das organizações por conta do etarismo ou que tenham interesse em colocar o “pé no freio”, atuando com menor carga horária semanal, também pode ser um bom negócio. Além disso, pode ser uma solução para empresas menores incluírem profissionais mais “pesados ou caros” em seus quadros.

Nos Estados Unidos a alternativa surgiu frente às dificuldades da progressão dos trabalhadores mais jovens à melhores salários e/ou cargos de liderança e da facilidade com que conseguem se dedicar a vários empregos, especialmente quando estes são realizados em casa, a partir de um computador. Pesquisa da “Paychek” realizada com mais de mil pessoas naquele país apontou para um índice de 47% de jovens trabalhadores que atuam em três ou mais empregos.

Afinal “polywork” é consultoria?

O modelo não pode ser confundido com consultoria. No caso do “polywork”, você vende parte de seu dia ou alguns dias de trabalho para uma empresa e não é funcionário exclusivo dela.

No Brasil algumas empresas de consultoria ensaiam oferecer algo semelhante através da troca de horas ou da entrega de valor. A novidade neste modelo é a normalização do trabalho CLT em duas ou mais empresas para profissionais jovens e a possibilidade de desenvolver trabalhos diferentes em empresas diferentes.

Será que essa moda pega?

O modelo de “polywork” tem sido criticado no Brasil, como é praxe quando ideias disruptivas acontecem. De qualquer modo, o mercado de trabalho deve passar por grandes transformações, trazendo maior flexibilidade nos padrões e formatos de carreira.

Alguns desafios para implantação do modelo de “polywork” no Brasil

São muitos os desafios para implantação deste modelo em nossas organizações. Vou aqui elencar alguns, sem, porém, concluir o assunto, já que ele é novo e não temos ainda muitas informações práticas sobre sua implementação por aqui.

“Burocras”

No Brasil, a burocracia tende a engessar iniciativas flexíveis por parte das organizações e dos profissionais, com uma propensão à regulamentação de todas as relações entre eles. Embora o pano de fundo seja a proteção ao trabalhador, o excesso de trâmites pode desanimar atitudes inovadoras.

Contrato CLT é sinal de propriedade?

O emprego CLT não traz obrigação legal de exclusividade desde que não haja ato de concorrência, violação de cláusulas do contrato, negligência e outros detalhes do tipo, que devem ser verificados na esfera do Direito Trabalhista. Porém, políticas divergem de práticas e, se muitas empresas ou lideranças não toleram que um(a) ex-funcionário(a) aceite uma proposta de trabalho de um concorrente o que dirão se um profissional quiser atuar simultaneamente em outras empresas, mesmo que não sejam do mesmo setor?

Este é um assunto com inúmeros desdobramentos: aspectos sociais, legais e culturais podem ser debatidos sem que o consenso seja alcançado. É importante que haja transparência nas intenções, mas, nessa fase inicial, talvez tenhamos que colocar isso por escrito para não termos surpresas desagradáveis no futuro.

Mentalidade das Lideranças

As lideranças podem ser um grande entrave nesta relação. Será que elas terão uma mentalidade suficientemente aberta para lidar com um profissional que impõe limites com relação à horários ou carga de trabalho, mesmo que esta pessoa trabalhe em empresas que não sejam concorrentes?

Saídas podem ser encontradas se houver um interesse efetivo na implementação do modelo. Iniciar a reflexão e debates pode ser um bom começo!

Gestão do Estresse

A necessidade de superar as expectativas frente à demandas profissionais e a habilidade na gestão do tempo são fatores a serem considerados por quem pretende atuar neste modelo. Profissionais que irão atuar em vários empregos conseguirão definir limites de horário e carga de trabalho?

Por muitos anos ouvimos que temos que separar nossa vida pessoal da profissional. O desafio aqui é separar e gerenciar nossas várias “vidas profissionais” e dar conta de todas elas!

Startups e Etarismo

É fato que muitos jovens já não se identificam com a cultura hierárquica e tradicional das empresas, que dificulta a inovação e empreendedorismo: muitas tentam trazer a ideia de startup para dentro delas a fim de parecerem mais atrativas para este público.

Na outra ponta, o etarismo deixa de fora do mercado de trabalho inúmeros profissionais “maduros”, já que trabalho e consumo após os 50 anos ainda não estão no radar das nossas organizações.

Empatia e “ganha-ganha”

O “polywork” poderia tornar o trabalho mais interessante, produtivo e lucrativo para todos, além de ser uma forma de atrair talentos de todas as idades para as organizações. Despertar a empatia e mostrar as vantagens deste modelo pode ser a chave para introduzir o assunto nas organizações.

Fran Winandy