Reflexões sobre Bônus Demográfico, Etarismo Econômico, Economia Prateada e ESG

MUDANÇAS NA PIRÂMIDE ETÁRIA BRASILEIRA

A estrutura etária do Brasil transformou-se depois dos anos 70. Antes, a base da pirâmide era bem larga e o topo bastante estreito, o que nos rendeu a fama de sermos um país jovem, reputação que não nos cabe mais. A queda nas taxas de mortalidade e natalidade fizeram com que essa distribuição se alterasse profundamente ao longo das últimas décadas.

Um modelo interessante de comparação é a França, que levou 110 anos para os idosos dobrarem sua participação relativa no conjunto da população: lá, eles atingiram 7% da população em 1870 e 14% em 1980.  Aqui, levamos 11 anos para atingir a mesma proporção, entre 2012 e 2023.

A PRIMEIRA JANELA DO BÔNUS DEMOGRÁFICO: MELHORIA NO PADRÃO DE VIDA

O Brasil teve uma rápida transição da fecundidade e um rápido processo de envelhecimento populacional. Porém, nossa renda estagnada nos leva a um cenário de envelhecimento sem riqueza.

Países desenvolvidos tiveram mais tempo para se adaptar às mudanças demográficas e obter melhor equilíbrio econômico-financeiro. Não é o nosso caso: envelhecemos pobres.

Na impossibilidade de aproveitarmos a primeira janela de bônus demográfico, temos ainda duas possibilidades pela frente.

A SEGUNDA JANELA DO BÔNUS DEMOGRÁFICO: PRODUTIVIDADE ECONÔMICA

A segunda janela do bônus demográfico poderá trazer benefícios econômicos se conseguirmos elevar as taxas de poupança e investimentos gerando impactos por conta de maiores níveis de produtividade da força de trabalho. Para tanto, necessitamos de maiores esforços em educação, ciência e tecnologia: vejam o exemplo da China.

A TERCEIRA JANELA DO BÔNUS DEMOGRÁFICO: IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO

A terceira janela possível é a que foca no aproveitamento do potencial da população idosa no mercado de trabalho. Dados do último censo do IBGE revelam que trabalhadores com 50 anos ou mais representam somente de 3 a 5% dos empregados nas empresas. A valorização da experiência, da extensão do vocabulário e do repertório lentamente se faz presente, especialmente na faixa entre 50 e 60 anos de idade.

O grande desafio é aumentarmos não somente o volume de vagas mas também a amplitude desta faixa etária, pois pessoas com idade próxima ou acima dos 60 anos raramente encontram oportunidades de trabalho, uma vez que os estereótipos negativos associados ao envelhecimento aumentam.

Os estereótipos negativos mais comuns relacionados ao envelhecimento são: dificuldades em lidar com tecnologia, diminuição de produtividade e falta de atualização. Além disso, o encarecimento dos planos de saúde contribui para o aumento do etarismo nas organizações.

ETARISMO ECONÔMICO X ECONOMIA PRATEADA

Os maiores de 60 anos são quase 15% da população brasileira e devem alcançar 25% nas próximas décadas, sendo o topo da pirâmide etária, aqueles com mais de 80 anos, o grupo que mais avança. Com histórico de bons pagadores, sofrem, além do etarismo no trabalho, de etarismo econômico, tendo dificuldades para conseguir financiamentos bancários, firmar contratos de aluguel ou contratar planos de saúde.

Os motivos para tal preconceito é o suposto tempo limitado de vida que estas pessoas teriam pela frente, aspecto desconsiderado quando o assunto é consumo, já que o mercado demonstra um interesse crescente por este cliente: a economia prateada responde atualmente por cerca de dois trilhões de reais no Brasil.

ETARISMO E ESG

A discriminação por idade limita a autonomia das pessoas e é motivo de depressão entre os idosos, cuja esperança envelhece. O etarismo está presente nas políticas e práticas organizacionais, afastando do mercado de trabalho mundial quase 25% das pessoas com mais de 55 anos: pessoas que se deparam com a invisibilidade e desvalorização pessoal e profissional, traduzidas pelo subemprego ou desemprego.

É estranho que muitas empresas que exibem em seus sites discursos relacionados a práticas de ESG não estejam preocupadas com este assunto. Garantir que as pessoas permaneçam empregáveis ao longo da vida através de possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento contínuos é missão das organizações e o diferencial que definirá o seu sucesso e perpetuidade.

Fran Winandy